terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Avesso

   Sonhei que alguém entrava no meu apartamento e despertei as três horas da manhã. Quem mais eu poderia achar que seria? Levantei contente e fui te encontrar, eu fui sorrindo, durante esses dez segundos tive alegria, acreditei que você realmente estaria ali e esqueci que você não quis mais fazer parte da minha vida. Eu cheguei na porta e não tinha ninguém. Eu me vi tão descartável ali em pé, sozinha sentindo o maior vazio do mundo, e não importava as formas que tentasse me confortar, nada adiantava. Você não estava ali e era só de você que eu precisava... Daquele sorriso e do beijo na testa. Mas não tinha mais nada, eu estava sozinha na sala olhando pra marca na parede daquele quadro horroroso que você decidiu colocar na minha sala. Mais uma vez ficou claro que você não vinha e eu nem sabia por onde você andava. Eu chorava como se alguém tivesse morrido, gesticulava como se implorasse pra minha cabeça parar de me torturar com tantas lembranças e possibilidades.
   
Deitei no sofá e coloquei a mão sobre o meu peito como uma forma de evitar que ele saltasse dali, meu coração batia forte e a cada batida eu desejava você. Desejava do jeito mais clichê possível. Apenas uma real presença.  Já era mais que claro que você não me ama mais, a sua vida seguiu, você esta em outras, mas eu ainda estou aqui esperando você voltar. Tentei buscar algo com teu cheiro, que fosse palpável e eu pudesse acreditar que aquilo realmente existiu, mas o que não levou, eu destruí. Você continua existindo dentro do meu corpo com tantas lembranças, parece exagero, mas você esta aqui o tempo todo. Como se fosse um fantasma, eu sinto sua presença, e isso faz com que eu fantasie uma realidade que não existe mais. Sou assombrada por alguém que nem sente falta da minha voz.    Ainda tenho vontade de te contar meu dia pra alguém que não me atendeu a ultima vez que eu liguei.
   Minhas humilhações não tem plateia, são coisas silenciosas, desesperos de alguém que está com saudade.  Não importa o que eu faça ou com quem eu tente dormir, é você que esta fazendo falta aqui. Estou faltando um pedaço, aquele que você arrancou de mim quando separava nós dois. Pelo menos me devolve ele. Passei anos ao seu lado, teu espaço foi conquistado. Como você conseguiu abrir mão de nós dessa forma? As coisas não fazem sentido. Sei que não tem como justificar um amor que acabou, mas preciso. Eu preciso seguir a minha vida e parar de acordar de madrugada com um coração feliz achando que você esta chegando. E principalmente parar de pensar em você e eu como se ainda fossemos um casal.
    Eu prometi que não ia mais te procurar, e certamente não vou mais. Não tenho mais espaço pra me magoar com seu descaso. Eu só queria que você sumisse da minha cabeça. E mesmo depois de parar de chorar,  eu ainda estava em pedaços, E eu não me quis daquele jeito. Hoje eu vou sair com a minha cara de quem já supero e como decidi não falar mais sobre você com ninguém, as pessoas conseguem ver uma força em mim. Vou beber e talvez eu consiga te esquecer por umas horas, em outras bocas com certeza, mas meu corpo ainda recusa mãos que não são as suas. Eu insisto, não posso parar de tentar abafar o escândalo que a sua ausência faz dentro de mim. Eu vou aproveitar a noite, pois quando eu voltar você vai continuar não estando aqui.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Honestamente.

   Eu existia antes do toque dele, eu já era uma mulher incrível, foda, quente. Gostosa. Não um corpo, entenda o que quero dizer, gostosa que faz gostoso, que faz com vontade. Sem frescura ou problema. Eu tinha um corpo e sabia usar. Quando se sabe transar, as regras do jogo não são difíceis. Vontade é algo simples, quando ela surge, você faz o que precisa ser feito até ela sumir. Tinha as minhas regras, meu código de honra sabia exatamente até onde podia ir e me mantar a salvo. Acreditei que seria mais um, por que é isso que a gente faz, não dá pra sair por ai procurando o amor em cada virilha que a gente lambe. A região pélvica me instigava a procurar coisas, mas o amor nunca foi uma delas.
   Ele surgiu na minha vida, chegou como todos os outros. Gostei, quis, peguei. Mas eu não queria que ele saísse de dentro de mim. Como isso funciona? Simplesmente queria que ele passasse o tempo todo dentro do jeito mais erótico que você pudesse imaginar. Detalhes não são necessários, já que o sexo foi realmente maravilhoso, afinal de contas, eu sei meter. Mas aquele homem respeitou minhas regras, jogou meu jogo, me deu uma canseira no meu território. Eu amei. Em determinado momento me vi sendo a puta dele, não mais a minha puta, era eu sendo dominada e gostando daquilo. Eu pensava: Vou precisar colocar esse pau numa moldura. Será necessário!
   O sentimento não chegava nem perto de ser amor, paixão ou algo assim, era sexo. Sexo na essência da coisa. Ele não me fez mulher, não foi o que mais me fez gozar na vida, ele completava o meu sexo. Fazia tudo que era necessário, cínico e ordinário. Era um puto. Nossa, melhor classe de pessoas. Juntou o puto e a puta, um bom time. Sempre quando a exaustão não nos permitia continuar, ou até mesmo os compromissos da vida adulta, eu ficava me sentindo incompleta. Um vazio diferente da vontade de transar, quase como se o emocional da minha vagina estivesse sentindo saudade daquele pau.
   
Em nenhum momento eu achei que pudesse me apaixonar pelo dono do pênis supracitado, eu sabia que eu ia gozar, que ele me faria sentir coisas durante o sexo que eu não esperava, que eu ia chupar aquela piroca como se fosse (realmente era) a coisa mais gostosa desse universo e que isso seria divinamente reciproco, mas amor não ia rolar. Ele não era um cara ruim, porem algo romântico não aconteceria, não era a natureza do nosso relacionamento. Não era pra isso que a gente estava ali, nunca foi.

 Talvez essa relação se tornasse um problema caso eu resolvesse namorar com alguém, mas até onde ela existiu nunca me causou nenhum tipo de desconforto. Mas o homem saiu do país, conseguiu um emprego bom e foi. Umas vinte e seis despedidas aconteceram, e eu nem levei ele no aeroporto. Meu corpo sente saudade, o vazio acontece, mas estou sempre mantendo ele preenchido. Nunca imaginei ir pra outro país pra transar, mas meu voo é daqui à uma hora.  

terça-feira, 12 de julho de 2016

Lições de amor.

Quando eu consegui entender o que era amor, a primeira lição que tive foi que ele machuca. Nossa como feria algo tão bonito que fazia estragos indescritíveis em um coração tão pequeno.
 Lição numero um: O amor pode te machucar muito.
A segunda lição foi um pouco mais difícil de aprender, pois eu precisava de maturidade pra aceitar aquilo, mão importava o quanto eu tentasse, me mudasse ou insistisse você não ganha amor se humilhando por ele. Não importa o quanto você precise, tem vezes que ele simplesmente não vem.
Lição numero dois: Não adianta se humilhar pra receber amor.
Foram lições muito importantes pra mim, pois dessa
forma eu aprendi a tentar me preservar. Na infância é terrível tentar entender o motivo de não sentir o amor que você acha que merece. Merece por ser criança, ser filho, por ser pequeno. Ele às vezes não vem ou vem de uma forma que não supre o que você necessita. Não existe muito oque fazer, você vai precisar crescer assim mesmo, vai virar adulto e parar de falar sobre essas coisas, é constrangedor assumir que essas carências infantis ainda são tão vivas dentro de nós.
Algumas verdades não precisam ser ditas, palavras que ficam muito tempo dentro do peito se tornam altamente cortantes, ferem o espaço onde habitam e certamente fariam sangram o corpo de quem viesse a ser o receptor da mensagem. Palavras cortam fundo, um corte limpo e preciso, sangra tanto que o corte some em meio a dor a gente nem sabe direito qual lugar precisa da sutura.
Você é adulto agora, ninguém se importa se você se sente abandonado ou desamparado. Você se sente amado? Ninguém liga! A gente pode tomar umas cervejas em momentos de tristeza, rir com amigos, usar alguma coisas pra fazer passar tempo e o desconforto. Mas não esquece, né? Quando somos crianças, as tentativas de chamar atenção não são vistas, quando falamos ninguém escuta. A vida adulta chega e não podemos mais falar sobre isso.
Viramos adultos sem notar e as técnicas adolescentes e idiotas de chamar atenção não são mais justificáveis.  Agora você cresceu, tem uma formação, um emprego e esta pensando em construir família. Parabéns, veja o adulto legal que você se tornou!

Mas fica tranquilo, não vou contar pra ninguém que nas vezes que você precisa de colo, sente a dor piorar por sentir o abandono e a impotência por não poder fazer nada para que isso mude. Segredo nosso. Todo mundo se sente um pouco assim.